O autismo resulta de um excesso de sinapses, as conexões nervosas do
cérebro, concluiu uma pesquisa que poderá levar ao desenvolvimento de um
tratamento para alguns sintomas dessa complexa síndrome.
Essa superabundância de conexões entre neurônios resulta de um mau
funcionamento do mecanismo normal de eliminação das sinapses inúteis.
Os pesquisadores da Universidade de Colúmbia em Nova York conseguiram
restabelecer o mecanismo cerebral do "corte de sinapses" em ratos
modificados geneticamente para simular o autismo.
Para conseguir isso, bloquearam - com a ajuda do medicamento rapamicina
- a ação da proteína mTOR, que regula a proliferação celular em
mamíferos. Desse modo, eliminaram os sintomas típicos do autismo em
roedores, como o de evitar contato com os demais. O estudo aparece esta
semana na última edição da revista "Neuron".
"Tratamos esses ratos depois do aparecimento dos sintomas (...), a
partir desse estudo seria possível, mas não seguro, obter os mesmos
resultados em pacientes após serem diagnosticados com a síndrome", disse
nesta sexta-feira à AFP o professor David Sulzer, neurobiólogo da
Universidade de Colúmbia e principal autor desse trabalho.
Ele acrescentou que o fato de essa disfunção parecer se desenvolver depois do nascimento "é potencialmente uma boa notícia".
Uma em cada 68 crianças nos Estados Unidos tem alguma forma de autismo, segundo as últimas estimativas do governo federal.
Em seu desenvolvimento, o cérebro de um recém-nascido produz uma enorme
quantidade de sinapses, por meio das quais os neurônios transmitem e
recebem sinais. Durante a infância e a adolescência, o cérebro normal
começa a cortar algumas dessas conexões para que as diferentes partes
possam se desenvolver sem estarem mergulhadas em um excesso de sinais, o
que gera confusão - explicam os neurologistas.
Os autores desse trabalho descobriram essa superabundância de sinapses
em autistas pela análise de tecido do córtex cerebral, responsável pelas
funções neurológicas superiores, de cérebros de 48 jovens com idades
compreendidas entre os 2 e os 20 anos no momento de sua morte. Desses,
26 tinham autismo, e 22 não apresentavam a síndrome.
Constataram, então, que um jovem de 19 anos sem autismo tinha 41% a
menos de sinapses do que uma criança pequena. Um rapaz da mesma idade
com autismo tinha apenas 16% a menos.
Os neurologistas também observaram que uma superabundância de sinapses
aumenta o risco de sofrer epilepsia, já que há mais sinais elétricos no
cérebro.
A equipe do professor Sulzer descobriu ainda biomarcadores e proteínas
dentro do cérebro de crianças e adolescentes autistas. Isso indica uma
disfunção no mecanismo de eliminação das células danificadas e
envelhecidas, chamada de autofagia. Sem esse mecanismo, não acontece o
corte natural das sinapses.
O professor Sulzer considera a possibilidade de adaptar melhor a
rapamicina (utilizada em ratos para restabelecer o corte de sinapses)
para tratar certos tipos de autismo, com o objetivo de minimizar os
efeitos colaterais. A rapamicina também é um imunossupressor usado
contra a rejeição de órgãos transplantados.
primeiraedicao
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