Parentes e amigos de Patrícia
Xavier da Silva, de 21 anos, procuram explicações para a brutalidade do
crime que tirou a vida da funcionária de uma fábrica de laticínios em
Ponte Nova, município de 57 mil habitantes, na Zona da Mata em Minas
Gerais. A população está chocada, sem acreditar que a jovem, grávida de
nove meses, foi morta com golpes de madeira e passou, desacordada, por
um parto extremamente traumático, com cortes de gilete na barriga, e
teve o filho roubado. Essas foram as condições a que Patrícia foi
submetida, segundo Gilmária Silva Patrocínio, de 33 anos, presa nessa
quarta-feira (01) pela Polícia Civil. Ela confessou o crime aos
delegados e investigadores e fez a reconstituição. A trama macabra de
Gilmária foi descoberta quando a polícia recebeu informação de que uma
mulher tinha dado entrada no hospital da cidade afirmando que teria dado
à luz em casa, mas sem sinais de parto recente. Gilmária, que trabalha
como cuidadora de idosos, apresentou várias versões, até admitir que
premeditou o crime para ficar com o bebê. Ela alegou à polícia que temia
ser abandonada pelo marido caso não tivesse um filho com ele. “A autora
diz que simulou uma gravidez e, sendo assim, uma hora a criança tinha
que nascer. Ela inventou uma história de que tinha roupas de bebê e um
berço para doação, conquistando a confiança da vítima. de quem já era
conhecida”, informou o delegado Silvério Rocha Aguiar. Segundo ele,
Gilmária já conhecia Patrícia, inclusive, chegou a colocar piercing no
umbigo dela e de uma irmã. O policial disse que Gilmária, ao chegar com
Patrícia ao terreno onde pretendia praticar o crime, inventou outra
história, dessa vez para encorajar a vítima a entrar no lote. “Já dentro
da cena do crime, ela conta que se armou com um pedaço de madeira de
uma cama desmontada e atacou Patrícia. Depois, a prendeu com uma caixa
d’água vazia e desceu até a construção. Com o pedaço de madeira deu
outro golpe no pescoço, causando hemorragia”, disse o delegado. Os
golpes finais foram duas incisões na barriga e no útero com lâminas de
gilete para retirar a criança, colocá-la em um pano e uma caixa e seguir
a pé até encontrar um táxi e ir para casa, de onde ligou para os
bombeiros, que cortaram o cordão umbilical e a levaram ao hospital.
Reconstituição
Depois da prisão de Gilmária e
de um andarilho que morava no local onde o corpo de Patrícia foi
encontrado, a polícia fez a reconstituição. O terreno abriga uma antiga
lavanderia, no Bairro Vale Verde, mais afastado do Centro de Ponte Nova.
Para chegar ao andarilho Herly Marçal, de 39, que já tem passagem na
polícia por furto, os investigadores encontraram um cupom fiscal de um
supermercado da cidade e o identificaram pelas câmeras de segurança do
estabelecimento. Ele nega participação no crime. A polícia também refez
os últimos passos de Patrícia e descobriu, por meio de um cartão de
ônibus, que ela havia ido ao Bairro Vale Verde. Testemunhas contaram que
viram Patrícia na companhia de uma mulher com as características de
Gilmária na região do crime. Na entrada do terreno abandonado, parentes,
amigos e moradores da cidade se juntaram esperando respostas, enquanto
acontecia a reconstituição. O namorado de Patrícia, Leandro Carlos Gomes
Dias, de 30 anos, que trabalha como auxiliar de manutenção, disse que a
namorada saiu de casa na sexta-feira para uma consulta de rotina do seu
pré-natal e não deu mais notícias: “Quando acordei, ela já tinha saído e
depois não consegui mais contato. Inicialmente, imaginei que o celular
tivesse descarregado”. A Justiça de Ponte Nova decretou a prisão
temporária de Marçal por 30 dias. A polícia aguarda agora a mesma
decisão para Gilmária. O marido da assassina confessa foi ouvido e
liberado, mas sua participação no crime bárbaro ainda não está
descartada pela polícia.
Crueldade abala moradores
A brutalidade cometida com a
jovem Patrícia Xavier dominou a roda de conversas em Ponte Nova, ontem.
Nas bancas de jornais, restaurantes, pontos de táxi e em qualquer
esquina, as pessoas estavam perplexas com a crueldade. “Foi muito
assustador pelo tamanho da violência que fizeram com ela. O que mais me
assusta é que ela poderia estar viva quando a mulher cortou a barriga
para tirar o neném”, lamentou Fabiana Costa, de 22 anos, que está
desempregada. Caminhando com o filho de 2 anos no colo, ela disse que se
lembrou de sua própria gravidez: “Eu me coloquei no lugar da Patrícia e
pensei que poderia ter sido eu a vítima. Ninguém consegue acreditar
nessa barbaridade”. O eletricitário Giovani Roncali Alves, de 43,
afirmou que é difícil imaginar um crime com tamanha crueldade. “Aqui em
Ponte Nova, estamos acostumados com crimes motivados por drogas. Essa
história está muito esquisita”. Na Escola Estadual Coronel Cantídio
Drumond, que fica em frente à Delegacia de Ponte Nova, as professoras
Lucimar Maia, de 45, e Andréa Almeida, de 43, liberaram os alunos mais
cedo, para evitar aglomeração na porta da delegacia na saída dos alunos.
“A gravidez é quase sagrada. (O crime) é uma violação que ultrapassa
qualquer limite de direitos humanos”, protestou Lucimar. “Ponte Nova
está completamente chocada; essa situação diminui muito o ser humano”,
acrescentou Andréa.
Casa montada para receber o bebê
Há exatamente uma semana, um
sentimento de alegria estava espalhado pela casa da empregada doméstica
Ivânia Xavier da Silva Gonzaga, de 37 anos, moradora do Bairro Cidade
Nova, em Ponte Nova. Primogênita de seus cinco filhos (três mulheres e
dois homens), Patrícia ajudava a preparar os docinhos para comemorar o
aniversário de um ano da primeira neta de Ivânia, filha de de sua irmã.
Na cabeça da jovem, certamente aquele momento se repetiria em breve,
pois o pequeno Bernardo já estava em sua barriga com nove meses. Com a
casa toda montada aguardando a chegada do bebê, o namorado de Patrícia,
Leandro Carlos Gomes Dias, de 30 anos, auxiliar de manutenção, afirma
que está dividido por um sentimento de tristeza pela perda da
companheira, mas de alívio por saber que a criança foi resgatada e está
bem. “Só tenho lembrança boa da Patrícia. Mulher tranquila companheira,
carinhosa, não dormia sem colocar a perna em cima de mim. Falava que
queria tirar carteira de moto e viajar para BH”, contou. Revoltada, uma
tia da jovem não acreditava na tragédia. “Acabou a nossa vida. Como
alguém pode fazer isso com quem nunca fez nada de mal para ninguém? Ela
guardava uma máquina fotográfica na bolsa, para não perder a foto do
primeiro dia de Bernardo, que estava quase nascendo”, desabafou Flávia
Xavier da Silva, de 33.
Entrevista: Ivânia Xavier, de 37 anos, mãe de Patrícia, pretende criar o neto
Como era Patrícia como filha?
Era uma ótima filha, muito
companheira. Ela queria reformar a casa, viver com o neném, construir
uma família. Quando completou 18 anos, correu atrás de um emprego. Era
uma menina cheia de sonhos, pronta para começar uma vida.
A senhora pretende criar a criança?
Sim, quero que ele fique
comigo. Quero dar todo o amor possível para o meu neto, porque a minha
filha foi tomada de mim. O que eu não pude fazer para ela, vou fazer
para ele. Quero que fique esse pedaço, porque o outro já levaram.
Por que a senhora acha que sua filha foi vítima dessa barbaridade?
Não consigo pensar em nada que
possa explicar uma coisa dessas. Quero escutar essa mulher falando
porque fez isso, já que ela também tem filhos. Espero que a Justiça de
Deus seja feita.
Fonte: em.com
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