Conhecida formalmente como cardiomiopatia, a síndrome do coração partido, enfraquece o músculo do coração
Quando Margaret Williams morreu, no País de Gales, no
mês passado, seu marido Edmund escreveu um poema para o velório. Eles
estavam casados há 60 anos e, aos 80, ainda caminhavam no jardim de mãos
dadas. Uma semana após a morte de Margaret, Edmund morreu. O funeral
dela virou de ambos e os caixões ficaram lado a lado. O poema que ele
havia escrito para ela foi lido para os dois. Em abril, Helen Felumlee morreu em Ohio, nos EUA, e seu
marido Kenneth a seguiu 15 horas depois. Ambos estavam na casa dos 90
anos. A família disse que o casal tinha dividido a cama por 70 anos -
quando foram colocados em beliches em uma viagem, se aconchegaram na
cama de solteiro de baixo. "Nós sabíamos que quando um fosse, o outro
também iria", disse a filha do casal ao jornal local. Mas é possível morrer em decorrência de coração partido?
Uma pesquisa publicada no início deste ano no periódico JAMA Internal
Medicine indicou que, embora aconteça raramente, o número de idosos que
sofreram ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral (AVC) no mês
seguinte ao da morte de um ente querido foi dobro em relação a um
grupo de controle com idosos que não estavam de luto. No grupo de luto, 50 pessoas entre 30.447 (0,16%)
tiveram problemas de saúde, em comparação com 67 (0,08%) entre 83.588 no
grupo de controle. "Muitas vezes usamos o termo 'coração partido' para
falar sobre a dor de perder alguém que amamos, e nosso estudo mostra que
o luto pode ter um efeito direto sobre a saúde do coração", disse à BBC
um dos autores, Sunil Shah, da Universidade de Londres.
Síndrome do coração partido
Existem referências sobre a "síndrome do coração
partido", conhecida formalmente como cardiomiopatia do estresse ou
cardiomiopatia Takotsubo. De acordo com a Fundação Britânica para o Coração,
trata-se de uma "condição temporária, na qual o músculo cardíaco de
repente se enfraquece ou entra em choque. O ventrículo esquerdo, uma das
câmaras do coração, muda de forma." O evento pode ser causada por um choque. "Cerca de três
quartos das pessoas com diagnóstico de cardiomiopatia de Takotsubo
sofreram estresse físico ou emocional significativo antes de ficarem
doentes", diz a Fundação. Essa tensão pode ser luto ou um choque de outro tipo,
como sustos em peças pregadas por colegas, ou medo de falar em público. A
hipótese é que a súbita liberação de hormônios - em particular, a
adrenalina - cause o choque do músculo cardíaco.
É diferente de um infarte, quando o coração para porque o
fornecimento de sangue é interrompido, muitas vezes por artérias
obstruídas. Já a maioria dos pacientes que sofre de cardiomiopatia
"têm artérias coronárias bastante normais e não têm bloqueios severos
nem coágulos", diz o site da universidade americana Johns Hopkins. Muitas pessoas simplesmente se recuperam; o estresse vai
embora e o coração volta à sua forma normal. Mas em alguns casos, como
em idosos ou naquelas que têm uma doença cardíaca, a mudança na forma do
coração pode provocar ataque cardíaco.
Perda
Há evidências de que a morte após a hospitalização de
uma pessoa eleva o risco de morte do parceiro, de acordo com um estudo
publicado em 2006 no New England Journal of Medicine. Outra pesquisa, publicada em 2011, sugere que, após a
morte do companheiro, as chances de o sobrevivente morrer durante os
seis meses seguintes aumentam. Os pesquisadores destacaram que um casamento em que os
parceiros se apoiem age como um "tampão", afastando o estresse. Os
parceiros também monitoram uns aos outros e incentivam comportamentos
saudáveis, lembrando-se mutuamente de tomar remédios, por exemplo, e
cuidando para que o outro não beba demais.
A "síndrome do coração partido" tem efeitos
contrastantes. Há, naturalmente, a tristeza de uma família que perde, de
uma vez só, duas pessoas amadas. Mas há também, muitas vezes, o alívio
de saber que um casal profundamente apaixonado deixou a vida junto. O poema de Edmund Williams, o octogenário do País de
Gales, para sua mulher Margaret falava sobre "dois amantes entrelaçados"
e uma viagem "até o fim do fim do tempo". Se existe uma condição benevolente de coração,
certamente cardiomiopatia de Takotsubo é um dos diagnósticos. Mas
"morrer de coração partido" resume melhor a situação.
tribunahoje
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