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sábado, 2 de agosto de 2014

Há 25 anos morria Luiz Gonzaga o “Rei do Baião”

A sanfona branca, os dedos ágeis, o chapéu de couro, a poesia amolada e os olhos sorridentes marcam os gestos e a arte do pernambucano mais cearense do País. Responsável por projetar o Nordeste para todo o Brasil, Luiz Gonzaga do Nascimento (1912-1989) bateu asas do sertão e deixou a saudade em seu lugar há exatos 25 anos. Depois de 42 dias internado no Hospital Santa Joana, em Recife (PE), uma parada cardiorrespiratória lhe sacrificou a vida, na manhã de 2 de agosto de 1989.

Símbolos do Nordeste, as narrativas do Velho Lua desenharam o retrato de um Brasil rural, repleto de feridas mal cicatrizadas, causadas pelas agruras da seca, mas também de alegrias, festas, amores, desamores, traquinagens e de muita fortaleza. As composições do trovador do sertão atravessam décadas sem perder a força e ainda dialogam com a contemporaneidade.

O mineiro Guimarães Rosa (1908-1967) definiu bem a região do semiárido em seu Grande Sertão: veredas: “Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar. Viver é muito perigoso...”. E foi em Araripe, um povoado do município de Exu, nas quebradas do sertão pernambucano, que Luiz cresceu, formou seu pensamento e se tornou homem. Mas foi bem cedo que tomou rumos de viajante, saiu a desbravar outras cidades e espalhar sua arte. 

O legado do Rei do Baião influencia gerações de músicos e compositores por todo o País, atravessa décadas e é perpetrado. O cearense Raimundo Fagner é um desses músicos que levam em sua bagagem os ensinamentos do mestre. Na década de 1980, Fagner e Luiz Gonzaga se encontraram e, juntos, gravaram dois discos antológicos, chamados Luiz Gonzaga e Fagner (1984/1987). A aproximação dos dois aconteceu em São Paulo, quando um colega de Fagner fez a ponte entre eles. “Lembro que eu dizia: ‘meu sonho é gravar com esse cara’”, conta o cantor, em entrevista por telefone, e emenda: “Ele (Luiz Gonzaga) me levou de volta pro Nordeste. Voltei o olhar, muito mais forte, para o Nordeste. Foi uma relação muito bacana, muito estreita, de fazer shows com ele. Ele me tratava como um filho”. 

Depois da morte de seu Lua, a força com que a música dele chega aos ouvidos das gerações tem desacelerado e está ficando mais dispersa. Fagner assinala que uma das soluções seriam os músicos que protagonizam o forró no País “buscassem o repertório de Gonzaga” e levassem o nome do rei do baião para seus shows e discos, com novas roupagens nas músicas. “O legado dele é eterno. Para nós, nordestinos, tem uma coisa muito forte”. 

O acordeonista cearense Adelson Viana compartilha da opinião de Fagner. “É um pouco triste, o meu olhar, porque muita gente acha que a música do Luiz Gonzaga é uma coisa velha, mas é o contrário, é uma coisa muito atual. Essas músicas contam as nossas histórias, porque ele falou do que o Nordeste tem, do que o Nordeste é. E vou além. Da mesma forma que os Beatles e os Rolling Stones continuam atuais, o Gonzaga também é. E isso não pode ser jogado fora”, critica. Admirador e seguidor de Luiz, Adelson lançou, ano passado, um CD Todo o Nordeste nas canções de Luiz Gonzaga e o livro O Nordeste nas canções de Luiz Gonzaga, organizado por ele, ao lado de Lucinda Azevedo e Ana Thais Feitosa. A obra conta os muitos causos protagonizados por Luiz Gonzaga e resgata as peculiaridades do nordeste brasileiro que são narradas em sua obra. Seu Lua, rei do baião, Gonzagão. Não importa a alcunha carinhosa - e respeitosa - que seja utilizada para se referir a Luiz. O importante, e que deve ser enaltecido, é que a arte do mestre sintetiza, de forma majestosa, e imortaliza a essência de tudo o que é Nordeste, o que é Brasil.
 
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