Rio Grande do Norte é o maior produtor de energia eólica do Brasil. Proprietários de terras ganham até R$ 60 mil por mês com cata-ventos. "Tenho 52 anos, todos eles lidando com a terra. Hoje, por incrível que pareça, quem me dá dinheiro é o vento". O agricultor Francisco Ferreira ajuda a entender o sopro de mudança que a energia eólica representou para os proprietários das terras localizadas na região do Mato Grande, no Rio Grande do Norte. Lá estão instalados grandes cata-ventos que geram parte da energia consumida em todo o Brasil.
De cinco anos para cá, o Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energias Renováveis (Cerne), organização sediada no Rio Grande do Norte, estima que o estado recebeu entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões em investimentos no setor eólico.
Cada aerogerador instalado nas terras, dependendo da capacidade de produção, pode gerar até R$ 1.000. O valor corresponde a um percentual da receita de cada máquina. Os contratos preveem pagamentos fixos por mais de 20 anos e são renováveis. Essas "fazendas solares" chegam a ganhar R$ 60 mil por mês. Muitos aplicam os rendimentos na agricultura.
De acordo com os últimos dados do Cerne, são 67 parques de energia eólica em operação produzindo energia comercialmente, além dos empreendimentos em construção e contratados em leilões, o que mantém o estado como líder nacional em projetos para geração de energia a partir dos ventos.
O potencial potiguar e os investimentos no setor têm reflexo direto para os donos das terras por onde passam os ventos mais fortes e constantes do estado. A realidade mudou na mesma proporção do rendimento das propriedades, antes pouco produtivas. Em alguns casos, a instalação dos aerogeradores salvou fazendas da venda.
Dinheiro reinvestido na fazenda
Localizado nas margens da RN-120, o povoado de Queimadas, pertencente à cidade de João Câmara, é ocupado por casas humildes que dividem o cenário com centenas de aerogeradores. Em meio às ruas de terra do povoado se destaca uma casa com obras em andamento para erguer um primeiro andar. A casa é de Francisco Ferreira, que no povoado atende pelo apelido de "Nego Veio".
A reforma foi um dos frutos do dinheiro proveniente dos 25 aerogeradores instalados em suas terras. Dos equipamentos na propriedade, 20 estão gerando energia e cinco estão em construção. Os cata-ventos garantem R$ 20 mil de renda.
Nego Veio saiu de plantações de tomate, beterraba e pimentão para receber a equipe do G1. "Antes só tinha castanha. Agora planto tomate, pimentão, mamão, beterraba. A chegada da eólica melhorou a minha vida. Tanto que eu posso ajudar outras pessoas. Tenho até funcionários hoje", ressalta.
O parâmetro usado por ele para mostrar a melhora é simples. "Quando começou essa história de eólica, nosso povoado tinha cinco carros por aí. Hoje, tem mais de 30 carros", calcula.
Além do percentual de faturamento dos aerogeradores, Nego Veio diz que ganhou indenizações pelas linhas de transmissão de energia que passam por seus mil hectares de terra. "Gasto tudo em funcionário e dentro da propriedade. Comprei uma casinha e um carrinho [uma picape] também. O resto, os genros 'comem'", brinca o pai de duas filhas.
'Energia solar é o futuro'
A alguns quilômetros das terras de Nego Veio está a propriedade de Luzivan Venâncio da Costa, de 51 anos, que possui uma propriedade de 440 hectares.
Por ter 19 aerogeradores instalados nas terras, ele recebe R$ 19 mil mensais. "Há 20 anos, cada hectare valia uns R$ 100. Agora não vendo por menos de R$ 10 mil", afirma.
O dinheiro gerado pelos cata-ventos gigantes é reinvestido na propriedade e no estudo dos dois filhos. "São investimentos que servirão para o futuro. Realmente nem sonhava com esse tipo de coisa", conta.
Na lista de melhorias estão novos acessos para a fazenda, o aumento do rebanho, novas plantações e a produção de tilápia em tanques. "Temos mais condições de investir na propriedade, que antes era uma terra apenas para animais de pequeno porte", compara.
Eólica 'salvou' fazenda
Se para Luzivan e Nego Veio a chegada dos parques eólicos representou novos investimentos em suas propriedades, para a família Lins o potencial dos ventos salvou uma fazenda na zona rural de Parazinho, município na região do Mato Grande.
"A terra estava condenada e seria vendida até que um pessoal da prefeitura falou da energia eólica e nos reunimos com uma empresa", relata Camilo Lins, de 26 anos.
O jovem é um dos herdeiros de Osvaldo Lins, morto em um acidente em 2010. No mesmo ano foi fechado um contrato para instalar 38 aerogeradores em suas terras. São R$ 60 mil recebidos pela produção de energia eólica. "A fazenda de Parazinho está só com eólica mesmo. Temos propriedades em Taipu e Poço Branco também. O dinheiro foi gasto na compra de tratores, caminhões, reformei a pastagem e montei um parque de vaquejada. Toda vida mexemos com isso de fazenda. Por isso investimos nas fazendas mesmo", detalha.
Felipe Gibson e Fred Carvalho
Do G1 RN
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